Flô
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
Flô
Ela preparava o corpo,os órgãos,as mãos,os pés ela olhava fundo nos olhos do novo amor,ela ia lá dentro,mostrava outra vez quem era,o que queria desta existência,o que seria sempre inevitável.
Alice queria mesmo o toque,de nuvens e águas,ela sabia que a balsa era sagrada,ela liberava os sons mais vívidos da esperança,e como uma garça colorida enfrentava os vulcões mais íntimos.
Alice queria mesmo era aMar...Não acreditava que entrava por aquela porta da casa amarela enfim alguém que enxergou sua simples magia e que estava apto a abraçá-la tão forte quanto sua primeira referência,Alice estava sentindo que sua nova família estava por chegar.Alice estava amando novamente,e agora pedia aos novos céus que fossem suas velhas botas que estivessem aos poucos voltando para o seu lugar.Alice estava feliz,era natal e ela estava rodeada de amor.
Flô
O natal era mesmo assim,um grande muro.Alice estava extremamente confusa,descompassada,beirando o desespero por não poder mais vê-la,tocá-la,abraçála..
e como seria esse ano novo sem o melhor abraço do mundo?Ela tinha força e imaginação suficientes para visualizar e mesmo sem ver, sentir.Ela sentia,ah como ela sentia,Alice era puro sentimento..Por isso pagava as vezes um preço tão caro por tudo.Alice não desistia dela,nem de tudo que a mãe tinha lhe inspirado em toda sua vida,ela seguiria com toda esta bagagem mágica sem deixar que nenhum muro perverso se apoderasse de suas escavações.Alice auscutava bem o coração da Mãe,se comunicava agora atráves de céu e mar,estrelas e ventos...Ela sabia que a mãe era parte de tudo que respirava,tudo que fluía...Era natal,Alice não estava sozinha,dentro da sua antiga casa sua mãe lhe visitava trazendo novas Flores,novos amores,novos cheiros...
Em cada canto da casa o natal agora soava mais livre e verdadeiro,porque o amor que um dia foi plantado ali,estava tão vivo quanto antes,porque agora todos os antigos muros que massacravam a liberdade foram expurgados,.agora Sua mãe podia Voar por todos os mundos e presenciar seus voos também aqui na terra.Alice estava feliz,pois sabia que o amor ainda era seu.E sempre seria,Alice olhava para sua mãe em cada Flor que encontrava pelo novo caminho.Feliz amor a todos.
Flô
domingo, 20 de dezembro de 2009
Flô
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
admitir que te amo por maldade
quero reter dessas lições
o verso admitir que o movimento basta
deixá-lo solto
nesse relento com pouco
caso
mas não perdê-lo se basta
lê-lo
e á doce tara"
Ana Cristina Cesar
Alice sonhava com um amor eterno.Eterno era sempre tão distante,porque o hoje que se tem nas mãos sempre vinha acompanhado de uma fugacidade aguda.ás vezes manter-se numa relação para Alice era como manter-se no verso.Ela precisava escrever,e sentir.Sozinha,sentia muito,mas acompanhada podia permanecer na constante inspiração.Todo dia Alice desejava um amor Eterno,mas só o verso ficava,só o verso solto e perdido deixava-a comprometida.
Alice se trancou no banheiro agarrou sua toalha como se fosse uma pessoa e chorou até chegar em outro mundo,e com a cara borrada do lápis preto que usa nos olhos encontrou suas botas,elas aestavam lá,seus passos atestavam sua presença.Alice enxugou o rosto calçou seus sonhos e voltou a realidade.Chorar as vezes pode parecer um sorrir por dentro,como se lavassemos a alegria,Alice sabia que era feliz.Ela sempre soube.
Flô
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
"Desamarrar as vozes,dessonhar os sonhos:escrevo querendo revelar o real maravilhoso,e descubro o real maravilhoso no exato centro do real horroroso da América.Cada promessa uma ameaça,cada perda um encontro.Dos medos nascem as coragens e das dúvidas as certezas.Os sonhos anunciam outra realidade possível,e os delírios outra razão.
Somos enfim o que fazemos para transformar o que somos.A identidade não é uma peça de museu,quietinha na vitrine,mas a sempre assombrosa síntese das contradições nossas de cada dia.Nossa fé fugitiva,eu creio.Para mim é a única fé digna de confiança,porque é parecida com o bicho humano,fodido mas sagrado,e a louca aventura de viver no mundo"
Eduardo Galeano
Alice não se contentava em ser,ela queria ser várias,achava que essa era sua maior verdade,o que para os outros parecia algum tipo de falsidade ou dirá promiscuidade,para ela era simplesmente sua forma de ver a loucura do mundo.Em cada Horror via compaixão,em cada caos via doçura,em cada ponte velha via ternura.Tudo lhe instigava,os coqueiros sempre lhe diziam algo novo na volta para casa.Alice era uma lunática assumida e se transfigurava a cada novo sol.
Desconstruía...quebrava,rasgava,voltava inteira-Sua identidade era um carro-céu de invenções reais..eram muitas facetas num só vestido florido,ela era mágica sim,porque através das palavras dizia por ela e por muitos o que o coração por vezes tem receio de expor..ela falava..Alice era mesmo atrevida,escrevia para poder respirar.Ela precisava do papel-oxigênio.Ela era mais ela mesma quando estava imersa neste branco que percebe tão bem a que viemos nesta selva que chamamos Mundo!
Flô
Assovia o vento dentro de mim.estou despido.Dono de nada,dono de ninguém,nem mesmo dono de minhas certezas,sou minha cara contra o vento,e sou o vento que bate em minha cara."
Eduardo Galeano
Alice observava tudo,cada pessoa que passava por ela,é como se pudesse ver excentricidade em tudo.Numa senhora simples,existia mistério,num garoto serelepe existia determinação,numa mulher sexy existia medo,num homem bem apessoado existia prisão,no cachorro mal lavado existia liberdade,nas igrejas antigas existia uma grande saudade,Alice adorava caminhar e perceber uma a uma todas essas diferenças,era como se buscasse nos outros,como se todo o resto pudesse mesmo ser parte integrante de seus passos,e determinassem suas escolhas.
Reconhecia-se em cada face,cada expressão mal talhada,as avenidas de cada rosto sofrido,cada rosto escancarado.Alice sabia bem mergulhar nas marcas do tempo.Ela vasculhava cada ruga como se fosse um bosque claro.Cada saída de casa era uma longa viagem,ela as vezes se assutava com o tamanho da sua percepção,enxergava tantas coisas ao mesmo tempo que algumas fingia não ver,mais cômodo.Mas outras eram tão gigantes que impossível não reparar.Seus olhos máquina fotográfica ambulante,seus pés lápis com cadernetas no chão,ela saía,desenhando suas letras nas ruas e clicando suas lentes nas pessoas.Alice ama as pessoas.Alice ama olhar para as pessoas.E ela olha lá fundo nos olhos.E muita gente ri,muita gente foge,pouca gente enfrenta.Poucos foram os olhos que fixaram nos de Alice,poucos foram os que a enxergaram.
Sempre com o vento elo ia,sua relação com o vento era de irmandade,sua relação com o tempo era de respeito.Ela ia mundo afora mesmo só dentro,vasculhando o que cada mundo de tem de mais fantasioso e real.O que o real tem de mais fantasmagórico.e o que a fantasia nos ensina sobre o que possivelmente pode ser real.
Flô
Alice sonhava demais.Para muitos isso era um defeito,uma barreira.
Não cortaria mais os cabelos estava decidido.Eles cresciam como os sonhos
e se colocavam tristes por sobre todos os ombros que passavam...
nenhum pente alcançava-os mais...eles seguiam o próprio caminho,
estradas de cabelos vermelhos se formavam pelas cidades afora.
Alice sonhava demais.Ela achava que poderia viver intensamente.E Vivia.
E nos últimos dias,ela voltou a ver o verde intenso das árvores,o azul incandescente do céu,
as cores vibrantes da lua,por esses dias ela voltou a ver que seus cabelos a levam sim,
para algum destino...incerto ainda.Mas ela caminha.
Alice ainda sonha,e se permite.Alice não vive no país daquelas maravilhas do livro,
mas faz seu próprio livro,suas próprias maravilhas,cada dia inventa nova página.
Flô
já falamos tudo antes de chegar a esse mundo
e há em tua poesia
raios de lua nova
pétalas eletrônicas
locomotoras
lágrimas
e de vez em quando,opa!
avante!abaixo!
Tuas piruetas,altas acrobacias
e por quê não um palhaço?
Picasso,clouwn do cosmo
dançando no altar dos milagres
e Colombo que humilhado em todas as pistas
nos descobriu há séculos
..vamos mostrar no circo
nossa destreza e nossa tristeza
nosso prazer de brincar com a luz
para que a verdade solte lampejos
entre uma e outra sombra
Hurra!
agora entremos,
que se apague a sala e com um refletor
iluminemos as caras
para que assim possam ver
dois alegres pássaros
dispostos a chorar com todo mundo."
Pablo Neruda
da mesma maneira que o fruto tem seus grãos.As crianças tinham uma morte pequena dentro de si,e os adultos uma grande.As mulheres traziam no seio e os homems no peito.Ela era uma posse e isso conferia a pessoa uma dignidade peculiar e um orgulho calado"Rilke
Minha morte tem conversado comigo a respeito da vida,tem me mostrado caminhos sem nome...
caminhos indigentes,caminhos sem heranças,caminhos suspensos nas curvas das botas de Alice.
Morte tem nome feio,morte tem nome destruidor e sombrio.Morte porta que bate.Pulsa coração para outra entrada.outra vida.Morte-passagem-labirinto-fio-instrumento que eleva.
Não está mesmo fora,a morte cá dentro espreita nosso melhor jardim.E faz com que plantemos novas espécies de flores,que estudemos sobre elas,que reconheçamos que dentro de cada flor existe um polén chamado morte,já nasce com ela,não acredito no tamanho de cada morte.
acredito na dimensão de cada força.A Morte é nossa,certeza,presente,plantada no início,semeada durante nosso percurso pelos diferentes universos.Minha morte sabe que precisa ainda plantar mais vida neste círculo que me encontro.
Flô
Esses dias tenho sentido cólicas poéticas,uma vontade latente de colocar pra fora.
Preciso colocar pra fora,mas não sei ainda o quê...
está quase lá,está quase saindo...sinto o começo das letras se aproximarem
mas ainda não consigo exprimir..e nem sei cantar,ou tocar um instrumento
que de alguma forma me fizesse falar,e nem sei mesmo pintar com propiedade
mas quem disse que sei escrever?eu só escrevo...só me sai,mais forte que tudo em mim.
mas nem isso,ultimamente está escasso o momento da concepção poética,
este momento mais sagrado que o sexo,este momento mais íntimo que o parto de filhos homens,
meus versos são fotografias que tiro ao longo do dia,elas ficam guardadas numa grande caixa...
são os motes,tempos depois retiro-as de lá e escrevo o que vejo ali,,,o que são para mim aquelas imagens,aquelas paisagens que por instantes me tomaram o ar...
noites inteiras acordada,bem acordada pra dentro,porque é por dentro que durmo...
durmo num sono de construções surreais..durmo numa viagem que só os dedos podem julgar propícia.meu medo acorda todo dia um pouco melhor quando consegue dizer a que veio.
Flô
andava com passos largos e coloria asfaltos frios
ela era uma menina bálsamo
ela era uma menina lorde
seus cadernos enchiam a pia de sujeiras doces
seus cadernos cuspiam a veia e escorriam ódios
tinha uma fortaleza dentro de si
e escrevia para aprender a dançar
e escrevia porque não sabia o que fazer das mãos
meu fusca de origem,gordinho disnorteado...
saia de casa todo dia e calçava botas
meu fusca não sabia andar com as próprias rodas
ele calçava as botas.;;
Alice tinha as esquecido na porta de entrada naquele dia
meu primeiro carro,meu primeiro passo...
mas usei as botas de Alice
eram as botas de Alice que me faziam dirigir
eram as botas de alice que flutuavam por mim...
tinha uma fortaleza dentro de si?
não,engano,mentira despautério....
eram apenas as botas de Alice,
carregadas de tédio,sonhos patéticos,deslizes pueris
era meu fusca virgem,direto da fábrica,amarelinho...
carregado de balaios de laranha cravo e mimo do céu..
ela era uma menina branca
ela era uma negra estrela
e ninava os passos cada um deles
toda vez que pisava nas fases da lua.
Alice obrigada por me fazer desentender.
Nunca esquecerei as voltas que meu fusca dava
com suas botas mágicas.
Flô
domingo, 13 de dezembro de 2009
Outro ano indo embora,2009 foi extremamente marcante,trágico,decisivo em minha vida...tão paradoxo tanta coisa incrível aconteceu comigo,três coletaneas lançadas,mais recitais,Bienal,FreePorto...Reconhecimento...me firmando na cena literária de Recife...Ouvindo que as pessoas estão me lendo e gostando do que veem.Ano de perdas irreparáveis..Mamy viajou,descobri da pior forma...foi(está sendo)o momento mais difícil de todos,acho que depois disso nada vai doer mais..nada vai fazer chorar mais...nada será tão grande..como este buraco que se firmou em meu peito..mas continuo aqui...e com a força conectada a dela..sempre.Ano de escolhas que ditariam todo o resto de minha vida.Estão ditando,as escolhas mais dolorosas.Tempo de término de sofrimento.Abertura pra felicidade entrar.